quarta-feira, 26 de maio de 2010

O que fazer do tempo livre?




Às classes médias, especialmente à classe média baixa, esta realidade desumana reserva uma condição embebida de escárnio e frustração: impossibilitadas de subir na escala social, são induzidas a crer que através do trabalho esgotante e do uso útil e produtivo das poucas horas de tempo livre, alcançarão a piedade divina e o jardim do éden na outra vida que promete ser boa. As horas livres devem ser preenchidas com labores extras, cursos técnicos ou de especialização, igreja e, às mulheres, também as tarefas domésticas e a atenção à prole. Como o sistema tem rechas, estão autorizadas a passar os domingos frente à televisão.
As condições brutais de vida nos bairros pobres e, muitas vezes, nos locais de trabalho, não permitem o desenvolvimento de outros olhares sobre possíveis realidades e sobre si mesmos. Aos pobres, espaços e infra-estruturas igualmente pobres: o campo de futebol improvisado e a bola velha e murcha; as imitações piratas
e baratas e as múltiplas igrejas; a prole gigantesca e a bolsa família; os baixos salários e o vale transporte; os barracos na corda bamba e os bailes “funk”. Sintomas de uma enfermidade social e política, a impotência das instituições e dos sistemas de educação que foram seduzidas pelo discurso naturalizado da cultura da exclusão, do merecimento por casta e herança, da eleição divina, da discriminação e do preconceito.
Nesse sentido, a “educação para o uso adequado do tempo livre” adquire uma função educativa fundamental. É nos tempos não cotidianos que a pessoa pensa e se e se vê, reflete sobre sua condição e sua ação no mundo. É preciso aprender a fazer o tempo nos poucos tempos livres de modo livre e desinteressado.
E é ae que a ARTE em forma de TEATRO entra, para preencher uma lacuna na vida do indivíduo dando-lhe um suporte e uma chance de mudar o seu destino, de costruir uma nova história.

Nenhum comentário:

Postar um comentário